Monday, February 26, 2007

O Inferno são os Outros

Ao inicio, deparamos com a construção desordenada, os restos de automóveis, panelas, mesas e cadeiras, tão característicos destes bairros. Falamos com as pessoas. Primeiros cumprimentos e sorrisos, "posso-lhe tirar uma fotografia", a visita ao pequeno comércio, os relatos da vida, "em Cabo Verde...". Os miúdos, quase todos de uma beleza cinematográfica. Mais fotografias, a progressão lenta e tranquila. O nosso guia, habitante do bairro, conta-nos a história, "depois do 25 de Abril...", informa-nos do nº de habitantes (9.000), explica porque é que as pessoas tem tanta relutância em abandonar as casas, "fomos nós que as construímos", fala da vida própria do bairro, que seria difícil reproduzir num bairro social, das dificuldades de legalização. A Catarina, que trabalha na Cova da Moura, vai-nos falando dos rufias. Este esteve preso 6 anos, este 10, aquele incendiou um carro da policia. Olhamos em volta; ninguém com ar ameaçador. Não façam confusão, nunca seria capaz de reproduzir as palavras do Lula, que conseguiu justificar um crime hediondo. Também não me apanham num discurso contra a Policia -apesar dos exageros da praxe das forças de segurança, que devem ser punidos-. Mas ali, ali no meio dos habitantes, que conversam animadamente uns com os outros -a vida comunitária é muito forte-, os que levam a vida com pequenos negócios, os que mandam os irmãos estudar, "já fizeste os trabalhos de casa?", os que nos recebem com um sorriso, ali, naquele sitio, vivem pessoas. Que são muito mais que o estereotipo do Jornal da "TVI", ou do "Correio da Manhã". Para eles o Inferno também são os outros; os que nem sequer são capazes de lhes dizer "Bom Dia".

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