Saturday, February 07, 2009

Grátis

A imprensa escrita tem que arranjar forma de escapar à armadilha do gratuito. Nunca se leram tantos jornais e se venderam tão poucos como agora. Basta ler os comentários do Público.pt, para perceber que aqueles não são os leitores do jornal em papel. Tudo começou a meio dos anos 90, quando os jornais, que não queriam parecer desactualizados, colocaram edições on-line gratuitas da versão em papel. Agora estão numa encruzilhada. O conteúdo não pode continuar a ser gratuito, mas se começam a cobrar os leitores escapam para outras paragens. É um Catch-22, ou em bom português, uma pescadinha de rabo na boca. A questão não é saber se a edição em papel sobrevive ou não. Esta questão já é irrelevante. Eu leio o NY Times, todos os dias, no telefone. A questão principal é como é que um jornal pode viver dependente só da publicidade. Não é só a viabilidade económica que está em causa. É a independência. Num excelente artigo, que li na Time on-line, Walter Isaacson, enumera as 3 fontes de receita de um jornal: vendas na banca, assinaturas e publicidade. O modelo da net só considera a última. Isaacson cita Henry Luce, um dos co-fundadores da Time, em que considerava a fórmula apoiada só na publicidade "morally abhorent", porque a publicação tem um dever com os seus leitores e não com os anunciantes, e "econmically self-defeating", porque o laço com os leitores vai, inevitavelmente, enfraquecer se não precisarem deles para a obtenção de receitas. Por isso, numa altura em que o modelo do jornal gratuito parece estar a claudicar (felizmente), chegou a altura de ir contra-corrente e começar a cobrar pelos conteúdos. Isaacson fala em 10$ por mês para a edição completa ou poucos cêntimos para artigos ocasionais. O modelo de pagamento teria que ser algo tão simples como o utilizado pelo i-tunes.
Chris Anderson, editor da Wired, escreveu um longo artigo o ano passado, em que defendia o modelo gratuito, para quase todos os ramos de negócio. Mas já mudámos de época. O ano passado ainda estávamos no tempo do dinheiro a brincar. Agora vamos ter que voltar a pagar por aquilo que queremos obter, sejam notícias ou passagens de avião. O "Grátis" acabou. Ainda bem.

0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home