Sunday, October 26, 2008

Mais uma volta no Carrossel

Em "Toda a gente diz que te amo" (Woody Allen, 1996), um dos filhos do casal, que é um dos centros da narrativa, é um impecável jovem conservador, que irrita a família liberal. No fim do filme, depois de um mau estar que o leva ao hospital, é-lhe diagnosticado falta de oxigenação no cérebro, encontrando-se, de imediato, a explicação para a inclinação conservadora do filho, nos últimos tempos. Lembro-me muitas vezes desta pequena metáfora, quando leio o João Pereira Coutinho, no Expresso. Ontem, mais um artigo em que atribui o papel da crise financeira ao papel do Estado americano. A inspiração, desta vez? Um artigo, de Dennis Sewell, na Spectator. Encontrar um artigo isento na Spectator sobre a crise financeira, é a mesma coisa que encomendar um artigo sobre o "sucesso" da guerra no Iraque, ao José Manuel Fernandes. Mas é muito fácil encontrar um artigo sobre a cupidez capitalista (mais um disclaimer: gosto mesmo do Capitalismo). Sugiro este , de Gretchen Morgenson, no New York Times. É pedagógico.
Mas a coisa não fica por aqui. O Coutinho ficou muito chocado porque, um amigo, foi perseguido, ou coisa parecida (não tenho aqui a revista), porque levou uma t-shirt de apoio ao McCain para o emprego. Hum, o rapaz até pode ter razão, mas a seguir vem logo a pedrada para a esquerda, que chafurda não sei no quê. Muito bem. E a direita de João Pereira Coutinho, apoiante de McCain, que escolheu Sarah Palin para vice-presidente, chafurda onde? Não vale a pena estar aqui a desfiar o rol da campanha lamacenta de McCain. Basta-me aquela frase, repetida muitas vezes nos comícios: "Obama não é um americano como nós". Onde é que se situa esta Direita? Que juízo moral é que pode observar sobre os apoiantes sinceros de Obama? E Bush? O que é que a direita tem a dizer de Dick Cheney? E de Guantanamo e Abu Ghraib? E do Waterboarding? Aposto que o Coutinho, e seus amigos, não querem confusões intelectuais com esta Direita. Mas então, porquê as generalizações idiotas? João Pereira Coutinho escreveu uma vez, ou disse -já não me lembro- que uma das razões porque não gostava da esquerda era porque os rapazes e as raparigas de esquerda não se sabiam divertir. Que frase é esta? Que poder de observação analítico, que perspicácia acima da média, leva um jovem de direita, a proferir uma observação tão inteligente?
Já trilhei aquele caminho, era novo, lia "O Independente", e sim, assinava "The Spectator". Na altura também proferia sentenças terríveis sobre "a esquerda". Depois o meu "coagulo", que impedia a oxigenação suficiente do cérebro -tenho bem presente essa data-, desapareceu e passei a ver o mundo a cores. A estes rapazes de direita, aconselho uma pequena consulta com o médico de família. Um TAC deve ser suficiente.

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